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domingo, 2 de outubro de 2011

Moments of the Life 1 - Barcelona

Freddie Mercury & Montserrat Caballé
Barcelona
1987

(Freddy Mercury / Mike Moran)

I had this perfect dream
Un sueño me envolvió
This dream was me and you
Talvez estás aquí
I want all the world to see
Un instinto me guiaba
A miracle sensation
My guide and inspiration
Now my dream is slowly coming true

The wind is a gentle breeze
Él me hablo de ti
The bells are ringing out
El canto vuela
They're calling us together
Guiding us forever
Wish my dream would never go away

Barcelona - It was the first time that we met
Barcelona - How can I forget
The moment that you stepped into the room you took my breath away
Barcelona - La música vibró
Y ella nos unió
And if God willing we will meet again someday

Let the songs begin
Déjalo nacer
Let the music play
Ahhhhhhhh...
Let the voices sing
Nace un gran amor
Start the celebration
Ven a mí
And cry
Grita
Come alive
Vive
And shake the foundations from the skies
Ah,Ah,Shaking all our lives

Barcelona - Such a beautiful horizon
Barcelona - Like a jewel in the sun
Por ti seré gaviota de tu bella mar
Barcelona - Suenan las campanas
Abre tus puertas al mundo
If God is willing
If God is willing
If God is willing
Friends until the end
Viva - Barcelona


sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Júlio Resende, 1917-2011

foto Tiago André

1917
A 23 de Outubro nasce, no Porto, Júlio Martins Resende da Silva Dias .
1930-1936
Faz ilustrações e BD para jornais e publicações infantis;
aprende desenho e pintura na Academia Silva Porto.
1937
Frequenta a Escola de Belas-Artes do Porto; é discípulo de Dórdio Gomes.
1943
Participa na organização do "Grupo dos Independentes" e participa nas “Exposições Independentes” entre 1943 e 1950;
primeira exposição individual no Salão Silva Porto.
1944
Exerce docência no ensino secundário.
1945
Conclui o Curso de Pintura na Escola de Belas-Artes do Porto, com o quadro "Os Fantoches";
visita o Museu do Prado;
em Madrid encontra-se com com Vasquez Diaz;
obtém os prémios da Academia Nacional e "Armando de Bastos".
1946
É bolseiro do "Instituto Para a Alta Cultura";
primeira exposição em Lisboa.
1947-1948
Estuda as técnicas de afresco e gravura na Escola de Belas-Artes de Paris;
é discípulo de Duco de La Haix;
na Academia Grande Chaumière recebe lições de Othon Friesz;
copia os Mestres no Museu do Louvre;
visita os museus da Bélgica, Holanda, Inglaterra e Itália.
1949-1950
É professor na escola de cerâmica de Viana do Alentejo;
enceta contactos com o escritor Virgílio Ferreira e com os artistas Júlio e Charrua;
em Lisboa conhece Almada Negreiros e Eduardo Viana;
primeira viagem à Noruega onde é hospede de Oddvard Straume;
permanência em Orstavik.

"Alentejo", 1950
1951
Fixa-se no Porto e mantém actividade docente no ensino secundário;
a gente do mar passa a constituir tema dominante da sua pintura;
recebe o Prémio Especial da Bienal de S. Paulo.
1952
Recebe o Prémio da 7ª Exposição Contemporânea dos Artistas do Norte;
permanece um mês na Noruega;
executa o afresco da Escola Gomes Teixeira, no Porto;
investiga o desenho infantil.
1953
Cria as "Missões Internacionais de Arte", a primeira das quais ocorre em Trás-os-Montes.
1954
Lecciona na Escola Secundária da Póvoa de Varzim.
"Póvoa de Varzim", 1954

1955
Promove a 2ª "Missão Internacional de Arte", na Póvoa de Varzim.
1956
Integra equipa com o arquitecto João Andersen para o projecto "Mar Novo" para Sagres que obtém o Primeiro Prémio em concurso internacional;
Recebe o Prémio "Artistas de Hoje", em Lisboa;
conclui o curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra.

s/título, 1956

1957
Organiza a exposição "4 Artistas Portugueses" em Oslo e Helsínquia;
Recebe o 2º prémio de Pintura da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.

"Estocolmo", 1957

1958
Executa um painel para a "Exposição de Bruxelas";
recebe o Prémio "Columbano" da Câmara Municipal de Almada;
promove a 3ª "Missão Internacional de Arte", em Évora;
é convidado para a docência na Escola de Belas-Artes do Porto;
executa vários painéis de azulejo para a estação de de Vilar Formoso.
1959
Recebe Menção Honrosa na 5ª Bienal de S. Paulo;
cria dois painéis cerâmicos para o Hospital de S. João no Porto;
executa oito painéis de azulejo para a pousada de Miranda do Douro.
1960
Recebe o Prémio "Diogo de Macedo", no Salão de Arte Moderna do SNBA, em Lisboa.;
executa um painel cerâmico para a Pousada de Bragança.
1962
Presta provas públicas para a Cadeira de Professores na Escola Superior de Belas-Artes do Porto;
executa o mural afresco do Palácio de Justiça do Porto.
1964
Executa cinco painéis cerâmicos para obras de arquitectura.
1965
Cria cenários e figurinos para o "Auto da Índia" de Gil Vicente, encenação de Carlos Avilez para o TEP, Porto.
1966
Realiza um afresco para o Tribunal de Justiça em Anadia.
1967
Cria cenários e figurinos para "Fedra" de Racine, encenação de Carlos Avilez para o Teatro Experimental de Cascais.
1968
Ilustra "Aparição" de Virgílio Ferreira;
realiza cenário e figurinos para o bailado "Judas", coreografia de Águeda Sena e Companhia da Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
1969
Recebe o Prémio "Artes Gráficas" na Bienal de Artes de S. Paulo, com ilustrações do romance "Aparição" de Vergílio Ferreira;
cria cenários e figurinos para o "Auto da Alma" de Gil Vicente no TEP, Porto;
realiza seis painéis em grés para o Palácio de Justiça de Lisboa.
1970
Orienta o visual estético do Espectáculo de Portugal na "Exposição Mundial de Osaka";
cria cenários e figurinos para "Antígona", no Teatro Experimental de Cascais.
1971
Primeira viagem ao Brasil;
encontra-se com Jorge Amado e Mário Cravo Filho.

"Moça com balão", Brasil, 1971

1972
É nomeado Membro da Academia real das Ciências, Letras e Belas-Artes Belgas, onde
faz uma comunicação.
1973
Ilustra a obra de Fernando Namora "Retalhos da Vida de um Médico";
nova viagem ao Brasil;
recebe o grau de Oficial da Ordem de Santiago da Espada.
1974
Exerce funções de gestão na Escola Superior de Belas-Artes do Porto;
realiza o cenário para o filme "Cântico Final" de Manuel Guimarães, adaptado do romance homónimo de Virgílio Ferreira.
1975-1976
Dedica-se a tempo inteiro à gestão da Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
1977
Viagem ao Nordeste Brasileiro;
encontro com os artistas Sérgio Lemos e Francisco Brennand.
1978
Cria cenários e figurinos para o bailado "Canto de Amor e Morte", coreografia de Patrick Hurde, inspirado na obra musical de Lopes Graça para a Companhia Nacional de Bailado;
visita as Faculdades de Belas-Artes de Espanha.
1981
Executa os vitrais para a Igreja Nª Sª da Boavista, noPorto;
viagem ao Brasil - Pernambuco e Baía;
profere uma palestra na Fundação Joaquim Nabuco, no Recife.
1982
Recebe as insígnias de Comendador de "Mérito Civil de Espanha", atribuídas pelo Rei.
1984
Realiza o painel mural "Ribeira Negra".
1985
É-lhe atribuído o Prémio da Associação Internacional de Críticos de Arte (AICA).

"Mulher e Roupa", 1986

1986
Executa em grés o grande mural "Ribeira Negra" no Porto.

"Ribeira Negra", 1986, pormenores

1987
Dá a última lição na Escola Superior de Belas-Artes do Porto.
1988
Executa painéis de azulejos no Hotel Solverde, Granja, V.N. de Gaia.

Painéis, Hotel Solverde, 1988
1989
Exposição retrospectiva na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
1992
Viagem a Cabo Verde – ilhas de S. Vicente e Stº Antão.
1993
É criado o "Lugar do Desenho - Fundação Júlio Resende", em Valbom, Gondomar.
1994-1995
Realiza painéis cerâmicos para a estação de "Sete Rios" do Metropolitano de Lisboa.
1996
Viagem a Goa.

colecção "Goa L'Odeur Coleur"

1997
Viagem às ilhas de Santiago e Fogo, em Cabo-Verde;
recebe a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique;
realiza a decoração de azulejos da estação "Sete Rios" do Metropolitano de Lisboa.
1999
Viagem à Ilha de Moçambique.

"Moçambique"

2000
Viagem ao Brasil - Recife.
2011
Morre em Valbom, a 21 de Setembro.





discurso directo
 Às vezes pergunto: tu achas que valeu a pena? Essas dúvidas também doem muito. Não sei se valeu a pena. O futuro o dirá, talvez. Mas eu não tenho nada a ver com o futuro. Tenho um passado muito forte. O futuro é indiferente.

Quando um artista vê uma coisa, ela penetra em si. Podem passar os tempos, mas aquilo que acontece é que a evocação se torna mais eloquente, mais forte do que propriamente o momento em que a viu. O que conta é a impressão, aquilo que nos magoou de certa maneira, porque não há prazer que não magoe.

A minha fala tem as vozes do círculo cromático. Muitas vezes se diz que um pintor não deve falar, deve pintar. Acho que isso é verdade, mas também acho que a pintura, como a fala, é sempre uma transmissão de ideias.

Eu nem sei o que é que procuro. O que sei é que procuro. Eu, normalmente, não gosto de certezas. Não posso.

Eu sou aquilo que faço e pinto. Sou expressionista. Uma pessoa é expressionista porquê? Porque exalta certas coisas e desinteressa-se por outras. Começo sempre a trabalhar sem saber muito bem aquilo que vou fazer. Gosto muito do meu instinto, daquilo que vem e que depois controlo. Naturalmente, não vou até ao fim nesse devaneio. Em devido tempo, a reflexão vem ao de cima.

[ A morte] cada vez me assusta menos. À medida que se aproxima, preocupa-me menos. 


Azulejo, "Máscaras"

 

Chávena de Café, Lugar do Desenho
Jarra, Lugar do Desenho

Prato cerâmico, s/título


Prato de porcelana, s/título


"Alentejo"



Fontes e ligações de interesse

 

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Cabetula



Meu nome completo é Cabetula Cambuinje Adão (até que é um nome leve), sou natural de Catete, por isso é que sou bué vivo, não gosto de dizer a minha idade, sou fruto da bela imaginação do Lindomar e do Olímpio, meu signo é ratazana, minha música preferida é Kú duro. Já fui roboteiro, batuqueiro, deputado, médico, agora sou kunanga. Sou bilingue (falo duas línguas: português e calão) mas a preferida é o calão, gosto muito de utilizar o calão, mas ai de mim se o Lindomar ou o Olímpio me apanham!...É que eles não gostam, são muito exigentes, só que eu já estou bué acostumado. Gosto muito de cretcheus (garinas, bijucas, damas, miúdas boas) de todo o tipo: escuras, latonas, lapampas, morenas, quilombas tudo vai, até porque eu não sou “pelista”(racista).
 Gosto do copo (álcool) de preferência kimbombo; gosto de ambientes duvidosos (festas, óbitos e maratonas). Se és homem serás meu avilo (amigo, kamba), se fores moça corres o risco de “passares na mulumba”.


Art Moris, Escola de Artes em Timor-Leste






Bibi Bulak é a primeira escola de teatro de Timor-Leste, fundada em agosto de 2000.
Da sua atividade destaca-se o popular programa de TV, “Programa Bibi Bulak”, o drama radiofónico “Rua do Repolho”, sobre a violência doméstica e a peça de teatro “Susubeen Kinur”.
Possui um núcleo central de escritores, atores e diretores timorenses e um consultor estrangeiro.
Funciona - com um orçamento baixo e sem patrocinador regular - no Departamento de Artes Dramáticas da Arte Moris Livre - Escola de Artes, no piso superior do edifício do antigo Museu Nacional. O projeto tem como objetivo auxiliar o desenvolvimento da sociedade civil, através de oportunidades para pessoas de todas as idades e classes sociais na prática de um ou mais aspetos das artes dramáticas.
É também um lugar de ensaio e gravação de filmes.
Os trabalhos de recuperação do edifício são executados voluntariamente por membros da Bibi Bulak, com exceção de tudo o que requeira especialização.

Saiba mais AQUI

Manuela Jardim



Maria Manuela Jardim Gouveia nasceu em Bolama, Guiné-Bissau, a 7 de julho de 1949.

É professora, escultora e pintora.




Em 1975 licenciou-se em escultura pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.

Frequentou cursos de gravura, têxteis e decoração na Fundação Ricardo Espírito Santo e serigrafia no Institut National D´Education Populaire de Paris.

Entre 1984 e 1989 foi técnica de artes plásticas no FAOJ.


Em 1986 integrou a equipa de representação de Portugal na Bienal dos Artistas dos países do Mediterrâneo, na Grécia e o mesmo em 1990 na França.

 Em 1990 criou dois selos e um bloco filatélico comemorativos da visita de Sua Santidade o Papa João Paulo II à Guiné.

Em 1998 criou a serigrafia comemorativa do Centenário do Aquário Vasco da Gama.

É autora do quadro de divulgação do Colóquio "Océan: archipel d´archipels" do Instituto Franco-Portugais, 1999.




Ver quadro de Exposições no ArtAfrica.


Zeca Afonso 1953-1970






1953

Incerteza


Não sei quem sejas que importa
Já trago a esperança perdida
Se és a luz que me alumia
Se és graça que me dás vida

Adeus palavra tão triste
Que a minha alma faz chorar
Adeus dizem os que partem
Sem esperança de voltar

Tavares de Melo

1960

Balada de Outono


Águas passadas do rio
Meu sono vazio
Não vão acordar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Águas do rio correndo
Poentes morrendo
P'ras bandas do mar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto a cantar

1962

Canção Vai... e Vem...


Em rosa clara te vi
Rosa morta te deixei
Em rosa clara
algum dia te verei
Na lua vinda te fiz
Lua finda te entreguei
Eras ela o que seria
saberei

Ai amor amores
tenho eu mais dum cento
bonecas primores
cabeças de vento

Cabeças de vento
não as quero eu não
ai amor amores
do meu coração
Em noite larga te ardi
madrugada te apaguei
num retorno que te viva
te amarei

Em rosa clara te vi
Rosa morta te deixei
Em rosa clara
algum dia te verei
Ai amores, amores
tenho eu mais dum cento
bonecas primores
cabeças de vento

Cabeças de vento
não as quero eu não
ai amor, amores
do meu coração

Menino d'oiro


O meu menino é d'oiro
É de oiro fino
Não façam caso que é pequenino
O meu menino é d'oiro
D'oiro fagueiro
Hei-de levá-lo no meu veleiro.
Venham aves do céu
Pousar de mansinho
Por sobre os ombros do meu menino
Do meu menino, do meu menino
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.
Quantos sonhos ligeiros
pra teu sossego
Menino avaro não tenhas medo
Onde fores no teu sonho
Quero ir contigo
Menino de oiro sou teu amigo

Venham altas montanhas
Ventos do mar
Que o meu menino
Nasceu pra amar
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.

O meu menino é d'oiro
É d'oiro é de oiro fino ....
Venham altas montanhas
Ventos do mar...

1963

Menino do Bairro Negro


Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar
Menino sem condição
Irmão de todos os nus
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz
Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Virá também

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção
Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Se até dá gosto cantar
Se toda a terra sorri
Quem te não há-de amar
Menino a ti

Se não é fúria a razão
Se toda a gente quiser
Um dia hás-de aprender
Haja o que houver

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

Os Vampiros


No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas pela noite calada
Vêm em bandos com pés de veludo
Chupar o sangue fresco da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada [repete]
A toda a parte chegam os vampiros
Poisam nos prédios poisam nas calçadas
Trazem no ventre despojos antigos
Mas nada os prende às vidas acabadas
São os mordomos do universo todo
Senhores à força mandadores sem lei
Enchem as tulhas bebem vinho novo
Dançam a ronda no pinhal do rei

Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

No chão do medo tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos na noite abafada
Jazem nos fossos vítimas dum credo
E não se esgota o sangue da manada
Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhe franqueia as portas à chegada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada
Eles comem tudo eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada

1964

Ó Vila de Olhão


Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não
Com papas e bolos
Engana o burlão
Os que de lá são
E os que pra lá vão
E os que pra lá vão
E os que pra lá vão
Ó flor da trapeira
Ó rosa em botão
Tuas cantaneiras
Bem bonitas são

Larga ó pescador
O que tens na mão
Que o peixe que levas
É do teu patrão
É do teu patrão
É do teu patrão
Limpa o teu suor
No camisolão
Que o peixe que levas
É do cais de Olhão
Vem o mandarim
Vem o capitão
Paga o pagador
Não paga o ladrão
Não paga o ladrão
Não paga o ladrão

Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não

Quem te pôs assim
Mar feito num cão
Foi o tubarão
Foi o tubarão
Foi o tubarão

Mulher empregada
Diz o povo vão
Que aquela empreitada
Não dá nada não

Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não
Madrasta é que não
Madrasta é que não
Ó pata descalça
Deixa-me da mão
Que os da tua raça
Já não pedem pão

Passa mais um dia
Todos lembrarão
Passa mais de um ano
Já não pedem pão
Ó vila de Olhão
Da Restauração
Madrinha do povo
Madrasta é que não

Balada Aleixo


Quem canta por conta sua
Canta sempre com razão
Mais vale ser pardal na rua
Que rouxinol na prisão
Adeus que me vou embora
Adeus que me quero ir
Deita cá esses teus olhos
Que me quero despedir
Com os cegos me confundo
Amor desde que te vi
Nada mais vejo no mundo
Quando não te vejo a ti
Adeus que me vou embora
Adeus que me quero ir
Deita cá esses teus olhos
Que me quero despedir

Coro dos Caídos


Cantai bichos da treva e da aparência
Na absolvição por incontinência
Cantai cantai no pino do inferno
Em Janeiro ou em Maio é sempre cedo
Cantai cardumes da guerra e da agonia
Neste areal onde não nasce o dia
Cantai cantai melancolias serenas
Como o trigo da moda nas verbenas
Cantai cantai guizos doidos dos sinos
Os vossos salmos de embalar meninos
Cantai bichos da treva e da opulência
A vossa vil e vã magnificência
Cantai os vossos tronos e impérios
Sobre os degredos sobre os cemitérios
Cantai cantai ó torpes madrugadas
As clavas os clarins e as espadas
Cantai nos matadouros nas trincheiras
As armas os pendões e as bandeiras
Cantai cantai que o ódio já não cansa
Com palavras de amor e de bonança
Dançai ó parcas vossa negra festa
Sobre a planície em redor que o ar empesta
Cantai ó corvos pela noite fora
Neste areal onde não nasce a aurora

1968

Natal dos Simples


Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdido
Foi-se embora o vento norte
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura

Canção de embalar


Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar

Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer

Endechas a Bárbara Escrava


Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.

Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.

U~a graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
E. pois nela vivo,
É força que viva.

Luís de Camões

Chamaram-me cigano


Chamaram-me um dia
Cigano e maltês
Menino, não és boa rés
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela a minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive o diabo na mão

Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi o diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito de penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão

Voltei de charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive o diabo na mão

Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio o diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive o diabo na mão

Vejam Bem


Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar

E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de febre a arder

Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer

Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão

E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vai
ninguém vai levantá-lo do chão

1969

Bailia


Bailemos nós já todas tres, ai amigas,
so aquestas avelaneiras frolidas
e quen fôr velida, como nós, velidas,
se amig' amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar.
Bailemos nós já todas tres, ai irmañas,
so aqueste ramo d' estas avelañas
e quen fôr louçaña, como nós, louçañas
se amig' amar,
so aqueste ramo d' estas avelañas
verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr' al non fazemos,
so aqueste ramo frolido bailemos
e quen ben parecer, como nós parecemos,
se amig' amar,
so aqueste ramo so l[o] que nós bailemos
verrá bailar.
Airas Nunes

Já o Tempo se Habitua


Já o tempo se habitua
A estar alerta
Não há luz que não resista
À noite cega
Já a rosa perde o cheiro
E a cor vermelha
Cai a flor da laranjeira
À cova incerta
Água mole água bendita
Fresca serra
Lava a língua lava a lama
Lava a guerra
Já o tempo se acostuma
À cova funda
Já tem cama e sepultura
Toda a terra

Nem o voo do milhano
Ao vento leste
Nem a rota da gaivota
Ao vento norte
Nem toda a força do pano
Todo o ano
Quebra a proa do mais forte
Nem a morte
Já o mundo se não lembra
De cantigas
Tanta areia suja tanta
Erva daninha
A nenhuma porta aberta
Chega a lua
Cai a flor da laranjeira
À cova incerta

Nem o voo do milhano ...

Entre as vilas e as muralhas
Da moirama
Sobre a espiga e sobre a palha
Que derrama
Sobre as ondas sobre a praia
Já o tempo
Perde a fala e perde o riso
Perde o amor

Vai Maria vai


Vai, Maria vai
Maria vai
Maria vai trabalhar
Não Senhora não
Senhora não
Senhora não, Maria

Vai, Maria vai
Maria vai
A roupa branca lavar
Não Senhora não
Senhora não
Senhora não, Maria
Vai, Maria vai
Maria vai
A roupa branca enxugar
Não Senhora não
Senhora não
Senhora não, Maria
Vai, Maria vai
Maria vai
Aquele chão esfregar
Não Senhora não
Senhora não
Senhora não, Maria

Vai, Maria vai
Maria vai
O meu menino calar
Não Senhora não
Senhora não
Senhora não, Maria
Vai, Maria vai
Maria vai
Maria vai trabalhar
Não Senhora não
Senhora não
Senhora não, Maria

A Cidade


A cidade é um chão de palavras pisadas
a palavra criança a palavra segredo
A cidade é um céu de palavras paradas
a palavra distância e a palavra medo.
A cidade é um saco um pulmão que respira
pela palavra água pela palavra brisa
A cidade é um poro um corpo que transpira
pela palavra sangue pela palavra ira.

A cidade tem praças de palavras abertas
como estátuas mandadas apear
A cidade tem ruas de palavras desertas
como jardins mandados arrancar.

A palavra sarcasmo é uma rosa rubra
A palavra silêncio é uma rosa chá
Não há céu de palavras que a cidade não cubra
não há rua de sons que a palavra não corra
à procura da sombra de uma luz que não há.

José Carlos Ary dos Santos

Era de Noite e Levaram


Era de noite e levaram
Era de noite e levaram
Quem nesta cama dormia
Nela dormia, nela dormia

Sua boca amordaçaram
Sua boca amordaçaram
Com panos de seda fria
De seda fria, de seda fria
Era de noite e roubaram
Era de noite e roubaram
O que na casa havia
na casa havia, na casa havia

Só corpos negros ficaram
Só corpos negros ficaram
Dentro da casa vazia
casa vazia, casa vazia
Rosa branca, rosa fria
Rosa branca, rosa fria
Na boca da madrugada
Da madrugada, da madrugada

Hei-de plantar-te um dia
Hei-de plantar-te um dia
Sobre o meu peito queimada
Na madrugada, na madrugada

Luís de Andrade

Menina dos olhos tristes


Menina dos olhos tristes
o que tanto a faz chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar

Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar
Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar

1970

Traz Outro Amigo Também


Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

Canto Moço


Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de manhã clara

Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p'la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa moira encantada
Vira a proa da minha barca.

Os Eunucos


Os eunucos devoram-se a si mesmos
Não mudam de uniforme, são venais
E quando os mais são feitos em torresmos
Defendem os tiranos contra os pais
Defendem os tiranos contra os pais

Em tudo são verdugos mais ou menos
No jardim dos harens os principais
E quando os mais são feitos em torresmos
Não matam os tiranos pedem mais
Não matam os tiranos pedem mais
Suportam toda a dor na calmaria
Da olímpica visão dos samurais
Havia um dono a mais na satrapia
Mas foi lançado à cova dos chacais
Mas foi lançado à cova dos chacais

Em vénias malabares à luz do dia
Lambuzam da saliva os maiorais
E quando os mais são feitos em fatias
Não matam os tiranos pedem mais
Não matam os tiranos pedem mais

Avenida de Angola


Dum botão de branco punho
Dum braço de fora preto
Vou pedir contas ao mundo
Além naquele coreto

Lá vai um a lá vão duas
Três pombas a descansar
Uma é minha outra é tua
Outra é de quem na agarrar

Na sala há cinco meninas
E um botão de sardinheira
Feitas de fruta madura
Nos braços duma rameira
Lá vai uma lá vão duas...

O Sol é quem faz a cura
Com alfinete de dama
Na sala há cinco meninas
Feitas duma capulana
Lá vai uma lá vão duas...

Quando a noite se avizinha
Do outro lado da rua
Vem Ana, vem Serafina
Vem Mariana, a mais pura
Lá vai uma lá vão duas...

Há sempre um botão de punho
Num braço de fora preto
Vou pedir contas ao mundo
Além naquele coreto

Lá vai uma lá vão duas...

Ó noite das columbinas
Leva-as na tua algibeira
Na sala há cinco meninas
Feitas da mesma maneira
Lá vai uma lá vão duas...

Carta a Miguel Djéjé


Diga amigo Miguel
Como está você?
Em todo o Xipamanine
Já ninguém o vê
Vou dar-lhe a minha viola
Para tocar outra vez
O seu valor um dia
Você mostrou
Todo o mainato o ouvia
E até dançou
Miguel só você sabia
Tocar como já tocou
Vinha maningue gente
Para aprender
Moda lá da sua terra
Bonita a valer
O Jaime e o Etekinse
Amigos não volt´haver

Quando a noite se ouvia
Miguel tocar
Também havia a marimba
Para acompanhar
A noite
Na Ponta Geia
Amigos hei-de recordar

O barco foi andando
E a Nanga vi
Foi a saudade aumentando
Longe daí
A gente
Na minha terra
Não canta assim
Como eu ouvi

domingo, 18 de setembro de 2011

Miriam Makeba

Mama Afrika
http://youtu.be/FP6CdNVzjC8


Tula Ndivile
c/ The Manhattan Brothers
(um dos primeiros grupos de Miriam Makeba)


Ema juba
c/ The Skylarks
(o primeiro grupo inteiramente feminino)


Mbumbela/Train Song
c/ Harry Belafonte


Pata Pata


Qongqothwane (The Click Song)


Khawuleza


Kilimanjaro


Chove Chuva


African Sunset


Zulu Song


Suliram


Soweto Blues
c/ Hugh Masekela


Thulasizwe / I Shall Be Released
c/ Nina Simone


A Luta Continua


The House of the Rising Sun